terça-feira, 6 de outubro de 2009

FACTOS.

..É estranho como a dor pode ser cruel
quando se pára para pensar
e analisar o que já se fez.
A maturidade incomoda porque nos torna exigentes...
Aterroriza porque estabelece limitações e as mostra...
Transforma a vida em pequenos diagnósticos
porque já se conhece a estrada...
E acaba nos tornando símbolos de nós mesmos.
A maturidade deveria correr com a tranqüilidade
das outras idades,
deveria conservar o viço da esperança
de sempre poder fazer,
de se poder deixar pra depois,
porque sempre haverá tempo.
Mas ela não é assim....
Ela amola, questiona, cobra,
é cruel, é finita, é terminal...
E cá estou eu,
olhando para um espelho que não pedi pra ver,
percebendo nuances tristes de uma aquarela
que não raro escolhi as cores...
Sou pura dualidade
e assim fui por todos os tempos da minha vida.
Me obriguei a vestir capas
e máscaras para burlar o mundo
e não aceitar a mediocridade
do certo e do errado convencionais.
Vesti sempre as máscaras necessárias
e soube usá-las muito bem....
Ah! Como soube!
Soube tanto que acabei conseguindo criar
e conviver com dois mundos distintos e meus.
O mundo que poderia ser mostrado
e aquele que não deveria ser visto
a não ser por mim mesma.
Sempre preferi o segundo,
aquele que era só meu,
o verdadeiro e de onde tirava suporte
e força para montar as peças do segundo.
E, olhando agora para mim mesma,
não consigo situar em qual tempo
os dois se separaram tanto!
E o que é mais ainda interessante
é que o segundo mundo
se ramificou em outros dois mundos distintos.
Uma parte dele completa de sucesso e realizações.
A escolha perfeita da carreira profissional,
a realização bonita da maternidade,
a felicidade de saber eleger e amar os amigos,
a postura digna e correta diante das pessoas
e das coisas.
Essa parte do mundo visível de mim realiza
completamente o mundo invisível,
nutre-o e o enche de orgulho.
Não quero mais esconder-me do sol,
não me admito mais pela metade....
Mas o que existe guardado só é belo aos meus olhos
e aos olhos de muito poucos a quem ousei mostrar.
Olho para o mundo de fora
e vejo a hipocrisia dominando tudo...
O discurso das imagens ideais e inexistentes,
que continua sendo respeitado e repetido dia a pós dia,
criando cada vez mais pessoas frustradas e infelizes.
Por que somos assim?
Por que dificultamos tanto o caminho de nós mesmos?
Por que somos tão impertinentes com o outro,
fingindo aceitar sua individualidade
e corrompendo-o para que finja pensar como nós mesmos,
ou como o "mestre" manda que pense?
Por que nunca sabemos lidar com a verdade pura
e simples de cada um, sem julgá-la
ou maculá-la com nossa maldade?
E a única coisa que temos conseguido
é sermos cada vez mais vazios,
cada vez mais sozinhos.
E é bem assim que o espelho mostra o meu reflexo:
marginal e sem par
para um mergulho que valha à pena. •

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